terça-feira, 30 de outubro de 2012

Inocência


Era uma vez... um bairro que mais parecia uma cidadezinha do interior. A vida transcorria calmamente. Tudo fluía a mil maravilhas. As ruas eram bem arborizadas e tinham casas com alpendres e jardins; os muros eram baixos; a vizinhança se conhecia bem e, no mínimo, era amorosa. Um “bom dia” quase nunca era negado. Tratava-se, pois, de um lugar de gente simples e  fraterna.
Pois é, esse lugar existiu no meu coração, também nos corações dos meus pais, dos meus irmãos, dos meus tios e primos. Nele existiu um cantinho especial, que só pude defini-lo como um verdadeiro pedacinho do céu.
Quando mudamos de Paraúna para Goiânia, família farta de filhos, catorze ao todo, mais gato, cachorro, papagaio, não houve, que eu saiba, estranhamento nem melancolia. Sem delongas e como se diz já nos sentíamos em casa, na Campininha. De um lado, a tia Xata e a tia Inocência; do outro lado da rua, a tia Bita. Todas manas do meu pai, o caboquim Bindito Ferro.
Daí, senão desde Paraúna, sempre contamos com uma boa retaguarda que sempre nos permitiu, sem medo, lançarmo-nos rumo ao futuro, a fim de conquistarmos novos espaços e de concretizarmos  os nossos sonhos.  
Na terra natal, diga-se com justiça, Rogério e Floriano Gomes da Silva, inegável dupla de ases, sabiamente nos credenciaram a todos para a vida e, por que não, para o mundo.
Como nem tudo são flores, essa irmandade contagiante, composta por Rogério, Maria, Amélia, Floriano, Benedito, doou a Deus seu último membro. No dia 21 de outubro de 2012, Inocência Gomes da Silva, 96 anos de idade, servidora aposentada dos Correios e Telégrafos.
Católica até o mais fundo do seu ser, jamais deixou de pertencer à Irmandade de Maria. E mais, ensinou-nos a todos nós a rezar, frequentar a Igreja de Jesus Cristo e a importância imensurável da fé.
 Hoje, já passadas tantas décadas, rememorando aquela florida e arborizada Campininha, só sobra à certeza de que o colorido de nossas infâncias e juventude deve-se em tudo àquele triangulo amoroso de moradias e parentes, na mesma Avenida Rio Grande do Sul,  de carinhosa convivência, hoje representado pela tia Inocência.






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