domingo, 28 de maio de 2023

2023 - Centenário de Nascimento de Corací Gomes da Silva

2023 - Ano do Centenário de Nascimento de Corací Gomes da Silva (20/02/1923) -  

“Meu coração tá batendo. Como quem diz não tem jeito. Zabumba, bumba esquisito. Batendo dentro do Peito”. Minha família começou na cidade de Paraúna, em Goiás, em meados dos anos 30 do século passado. Meu pai, Benedito da Silva Ferro, garimpeiro, um diamante bruto de coração mole; minha mãe, Corací Gomes da Silva, vivaz, centrada, um farol intuitivo a nortear nossas vidas. Vidas, vidas, vidas, dezesseis filhos ao todo, tipo escadinha, a cada dois anos, eis que surgia um rebento. 


- Com o passar dos anos, as crianças crescendo e a busca por novos horizontes, foi nos levando um de cada vez para a cidade de Goiânia, com novas perspectivas de trabalho, de estudo, de oportunidades. 

A transição definitiva para a Capital não foi, por assim dizer, tão dolorosa. Já tínhamos tias e parentes assentados no bairro da Campinha. Um verdadeiro triangulo amoroso na Avenida Rio Grande do Sul, as manas do meu pai, Inocência, Amélia e Bita, já eram um porto seguro para nós e muitos conterrâneos “paraúnicos”. 

- Na Paraúna, uma dupla de ases, os tios Rogério e Floriano, manos do meu pai, a dar retaguarda a todos nós, filhos, sobrinhos, primos, amigos... . De volta para minha mãe, nossas tias Leontina, Maria, Vandinha, Neném e Chica e o tio Nego, com maior ou menor intensidade, até mesmo pela distância, pois muitos viviam no meio rural, nos dando carinho e amizade, com as portas sempre abertas para um cafezinho com biscoito, ou um pouso com aquele calor próprio do excesso de zelo e atenção. 

- Então, voltando, ao nosso “Corací, corão, coração” e, para não cometer qualquer tipo de injustiça, quer pelo esquecimento ou pelo puxão de orelha atual, uma pausa para a nomeação da nossa irmandade: - Sebastião, Ivaldo e Ivanilde, Dulce, Luiza, Vicente, (um anjinho), Zé Carlos, Carminha, Cristina, João Batista e João César, Geraldo, Agnaldo, Cecília e Simone.




 - Hoje, sem meu Coração, que Deus teimou em levar para si, há, na convivência entre nossa irmandade , uma massa consistente de assentamento de construção familiar. Esse amalgama, preparado pela dona Corací, além de ter ficado ao ponto (rédea curta para todos), nos deu liga (somos uma irmandade unida, amiga e nos respeitamos mutuamente).

 - Perdas e danos – Minha fortaleza, meu porto seguro, minha Mãe, começou, sem querer e sem saber, a ficar mais frágil e vulnerável, entre dois bombardeios de sofrimento de nome enorme. A morte do filho João Batista Gomes, no início dos anos 80, que comprometeu e abalou profundamente a saúde dela. E, já no final daquela década, meu irmão José Carlos sofreu um acidente de carro ao voltar de férias. Morreram ele, a esposa Maria Aparecida Batista de Oliveira, o filho Gustavo de Oliveira Gomes, a babá. Somente o filho mais velho, Guilherme de Oliveira Gomes, por um verdadeiro milagre, sobreviveu. Aí, o golpe foi duro demais, e, pouco tempo depois, minha mãe foi definhando até que triste e melancolicamente veio a falecer. 

- Sem palavras, vou buscar no poeta Drummond, algo sobre as mães, todas as mães, sem exceção, que talvez sirva de alento para essa prosa: “Para sempre” – Por que Deus permite / Que as mães vão-se embora? / Mãe não tem limite / É tempo sem hora / Luz que não apaga / Quando sopra o vento/ E chuva desaba Veludo escondido/ Na pele enrugada / Água pura, ar puro / Puro pensamento / Morrer acontece / Com o que é breve e passa / Sem deixar vestígio Mãe, na sua graça / É eternidade / Por que Deus se lembra / Mistério profundo / De tirá-la um dia? -----.) 

- Na superação dessa ausência física da minha mãe, busco a sensação da presença dela na minha vida. A título de divagação e como exemplo posso citar a canção de Alceu Valença, “ Coração bobo, coração bola / Coração balão, coração São João / A gente se ilude dizendo / Já não há mais (“Corací, corão,”) coração.”

 - Hoje, sempre que saio para qualquer coisa, trabalhos, estudos, festas, passeios, tenho a certeza de nunca estar sozinho. Eu pressinto a existência de uma proteção muito peculiar orquestrada pela minha mãe ditando o ritmo da batida do meu Coração. Isso, graças ao nosso bom Deus, só as mães podem dar. 

- Nessa briga entre o tempo e o espaço, entre o ontem e o hoje, entre perdas e danos, penso na minha mãe todos os dias.

 Quer saber? Só de Coração para Coração: 




- - Na função despertar do meu celular, toda manhã ativo o modo soneca. São só mais uns minutinhos na cama. Sabe, quem criou essa possibilidade, talvez não tivesse a noção da importância da mesma. Minha mãe, sempre que me chamava pela manhã, era implorada por mim para me deixar lá na cama mais um pouquinho, preguiça pura. Hoje, com ela “ausente”, achei outra função para a função soneca. Ela me traz a sensação de presença da minha mãe. Aquele tempinho a mais me faz sentir que ela vai voltar. Meu ser se cobre de uma alegria plena, que se esparrama pelo meu dia. 

- Agora, deixando a prosa de lado e buscando um alento na poesia, voltemos ao saudoso Drummond: “Fosse eu rei do mundo / Baixava uma lei / Mãe não morre nunca / Mãe ficará sempre / Junto de seu filho / E ele, velho embora / Será pequenino / Feito grão de milho”.

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