sábado, 17 de março de 2018

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Inocência


Era uma vez... um bairro que mais parecia uma cidadezinha do interior. A vida transcorria calmamente. Tudo fluía a mil maravilhas. As ruas eram bem arborizadas e tinham casas com alpendres e jardins; os muros eram baixos; a vizinhança se conhecia bem e, no mínimo, era amorosa. Um “bom dia” quase nunca era negado. Tratava-se, pois, de um lugar de gente simples e  fraterna.
Pois é, esse lugar existiu no meu coração, também nos corações dos meus pais, dos meus irmãos, dos meus tios e primos. Nele existiu um cantinho especial, que só pude defini-lo como um verdadeiro pedacinho do céu.
Quando mudamos de Paraúna para Goiânia, família farta de filhos, catorze ao todo, mais gato, cachorro, papagaio, não houve, que eu saiba, estranhamento nem melancolia. Sem delongas e como se diz já nos sentíamos em casa, na Campininha. De um lado, a tia Xata e a tia Inocência; do outro lado da rua, a tia Bita. Todas manas do meu pai, o caboquim Bindito Ferro.
Daí, senão desde Paraúna, sempre contamos com uma boa retaguarda que sempre nos permitiu, sem medo, lançarmo-nos rumo ao futuro, a fim de conquistarmos novos espaços e de concretizarmos  os nossos sonhos.  
Na terra natal, diga-se com justiça, Rogério e Floriano Gomes da Silva, inegável dupla de ases, sabiamente nos credenciaram a todos para a vida e, por que não, para o mundo.
Como nem tudo são flores, essa irmandade contagiante, composta por Rogério, Maria, Amélia, Floriano, Benedito, doou a Deus seu último membro. No dia 21 de outubro de 2012, Inocência Gomes da Silva, 96 anos de idade, servidora aposentada dos Correios e Telégrafos.
Católica até o mais fundo do seu ser, jamais deixou de pertencer à Irmandade de Maria. E mais, ensinou-nos a todos nós a rezar, frequentar a Igreja de Jesus Cristo e a importância imensurável da fé.
 Hoje, já passadas tantas décadas, rememorando aquela florida e arborizada Campininha, só sobra à certeza de que o colorido de nossas infâncias e juventude deve-se em tudo àquele triangulo amoroso de moradias e parentes, na mesma Avenida Rio Grande do Sul,  de carinhosa convivência, hoje representado pela tia Inocência.






sexta-feira, 26 de agosto de 2011

É a vida




De repente, somos flagrados terceirizando problemas alheios. Como essa conversa de bois, ops!...ou melhor, de dois amigos nas pecuárias da ...

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-Grande amigo, parabéns pela nova parceira.

Pego de surpresa, o amigo, com a voz embargada, responde: - Sou pelo lado estético. E, como diz o poeta, beleza, pra mim, é fundamental. Então, nada feito, nada de parceira.

- Grande amigo, ela passou na seleção, é uma campeã. E pode facilitar sua vida em todos os sentidos, moradia, alimentação, viagens. Tudo de primeira. Você perdeu o juízo?

Agora, procurando argumentos e balançando a cabeça negativamente, ele diz que é muito constrangedor ficar por conta dos outros. “Ainda mais eu que, além de ter um nome a zelar, não vejo condições de convivência. É muito desprovida de recursos. Até anda com as pernas abertas”.

-Grande amigo, ela derrubou todas as concorrentes. É a melhor das melhores. Pode não ser a mais bela, mas, com certeza já é a dona do cofre e de todas as atenções. Tornou-se cortejada. E você fica aí com esse negócio de estética, de beleza, de amor próprio. Não perca essa chance. Senão, senão...você pode ser considerado um animal incompetente...um burro.

Conversa vai, conversa vem, mas, eis que chega o dia do grande encontro.

A expectativa é geral.

Os promotores, alcoviteiros, cruzam os dedos e ficam à espreita.

Olhos nos olhos, ela se aproxima dona de si e cheia de soberba; causando pecados capitais, como, inveja, nos invejosos, e irá, nos irados.

Naquele momento, o mundo, esquecido, parou.

Ninguém pensava em concurso, em viagens, comidas, estética, beleza.

Nada.

O cio cegou o casal, sem juízo, na arena das necessidades fisiológicas.

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- Grande amigo, me diga com quem andas que eu te direi quem és! E aí, preparado para uma vida de ócio e cruzas, de prazer e sucesso, de reconhecimento.

Pensativo, reflexivo, introspectivo, ele disse estar preparado, mas que temia em relação ao futuro do amigo.

- Grande amigo! Meu futuro, o que tem de errado em relação ao meu futuro?

Geralmente, disse ele taxativo, o gado de corte vai para o abate mais cedo.

-Grande amigo, quem te contou sobre fatalidade tão cruel, que está a merecer uma queixa-crime, uma ação.

Desconsertado, ele apontou para a grande vaquinha campeã, que havia mugido em seu ouvido algo parecido com “Muuuuuuuuuuuuuuu!!!!”.

-Grande amigo, após a ficha cair, viu como eu estava certo sobre ser aprovado na seleção. Você agora, ao contrário de mim, tem um salvo-conduto, que apesar de não ser estético, nem ético, nem belo, é um salvo-conduto.

Entretanto, cabisbaixo e mais triste ainda, o grande amigo refletiu afirmando: estamos todos no mesmo curral e, no final das contas, tanto faz ser selecionado, campeão, reprodutor ou esbelto.

- Grande amigo, aonde você quer chegar com essa controvérsia toda???

Imóvel, ele fala sobre o segundo “Muuuuuuuuuuuuuuu!!!! da grande vaquinha vitoriosa no torneio, dizendo que não havia escapatória e que todos irmãos ruminantes um dia vão estar no o centro das rodadas de churrasco e de cerveja de um outro animal sanguinário qualquer.

- Grande amigo, isto posto, então só me resta erguer a cabeça, olhar pro céu e mugir...”há Deus!?”

- Muuuuuuuuuuuuuuu!!!! ...

















segunda-feira, 18 de abril de 2011

Não lute contra sua natureza

Às vezes, algo sutil, como, por exemplo, mudar o foco, no caso do stress, pode melhorar nosso dia a dia, nossa vida, enfim. Não lute contra sua natureza

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Um canto, uma pedra, um caminho


Por agnaldo gomes em 2000        

      

Num corre-corre danado, cada um buscava encontrar aquele lugarzinho para presenciar a grande virada rumo ao ano 2.000. Nas asas do prazer e da euforia, a pedra no caminho era o bug do milênio.

Do catastrofismo à  prevenção, “salvaram-se todos”.

A bela Terra cumpriu a sua sina. Completou mais uma volta em torno do Sol.

              Redonda, ela iludiu o homem, fornecendo-lhe um canto.

Um lugar qualquer.

                             Planeta inteligente.

A terra, praticamente,  dribla o Sol.  
              
                                  Autocontrolando-se.

Os  outros planetas sofrem, resignadamente,  todas as conseqüências do frio ou  do calor. Não podem fazer nada.

A Nave Azul, não. Ela curte tudo. E nos dá a noite,  e nos dá  o dia.

Só pra nós, todos nós.

Sedutora. Ela acabou contagiando a todos. Os espaços de sobrevivência,   dadas as condições de cada momento, foram garantidos.  Uns mais, outros menos tiveram e têm os seus momentos, micro ou macro, de glórias. Viram!

Ela também é generosa.

Por ser, dentro de suas limitações, inteligente e generosa, só ela, é claro, poderia dar oportunidade para o surgimento de vida também inteligente. 

Surge o homem.

A espécie nova. Vai evoluindo aos poucos, afastando-se cada vez mais de sua origem natural. Civiliza-se. Da concretude do medo ao abstracionismo impune, o bicho, às cegas, caminha. Busca racionalizar, entender.  Quando sem norte, quer  se justificar, fantasia   um deus. Até mesmo se achando   o centro de tudo.

Ousadia.

O Brinco Azul do Sol movimenta-se, gira.  Os terráqueos encontram-se, ainda, perdidos. O labirinto é o Absoluto - o Relativo – o  Racional. Inexplicável. 

  egoísmo.  Umbigo.

Este ano a colheita vai ser boa. Vai chover bastante. Como Deus é bom. Chove para que o homem possa plantar, comer, procriar. Existir

Será que a Terra sabe disso?

Certeza. Quem sabe, talvez,  foram as artimanhas  que ela criou  para fugir do assédio do Sol. Detalhe esse vital para os inquilinos  – Terra e homem. O elo é  entre tudo. A Terra precisa   do calor e do frio, das cores, das plantas, da noite, do dia, da dinâmica, da ilusão.  É complicado entender as coisas simples.

 Ignorância.

A oportunidade foi dada ao homem para usufruir. Destruir, jamais. Na verdade, o  que ocorre é justamente o contrário. A destruição é geral.

A maioria das espécies está em processo de extinção. Destruidora. Só uma crê escapar desta fatalidade.

Uma maça bichada. Assim, pode-se comparar nossa casa  e seus moradores. A conseqüência é uma só, acabar. A maçã e a casa perdem o vigor, a vitalidade. O bicho-da-maçã é mais felizardo, porque ignora o que  o espera. O bicho-da-Terra, ao contrário, vai pagar um preço muito alto.

Futuro.


Térmica.  A Terra precisa do seu ponto de equilíbrio. E isso pode representar o fim de sua generosidade para como o bicho homem.

Fatos.

 Num futuro próximo, quem sabe, todos vão se lembrar :  “Em 2.000, o mundo tinha cantos, onde muitos queriam ficar.  Hoje, onde podemos nos esconder”.

 Sem versão dos fatos.

Nas próximas voltas, quem sabe, gente, a Terra sinta  que existe uma pedra no seu caminho.   

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Invisibilidade cotidiana


Os  o l h a r e s  eletrônicos estão a espreitar os transeuntes.
Ninguém fica indiferente a eles, passou na frente, não tem vacilo,  está (Clic!) fotografado, filmado.
Vacilou, dançou.    Pode ser pego no f.l.a.g.r.a.
Deficientes, os olhares humanos não captam quase nada. Não veem o rosto da doméstica. Não sabem quem é o lixeiro ou o pedreiro...faxineiro...
PRIVADAS, a visão humana e a eletrônica fingem não ver o menino de rua, MUITO menos a pobreza nua e crua.
A infração que vai e a multa que vem, num trânsito caótico,  são dádivas de fotossensores.
O carro estrambótico, com tração animal, não é fotografado e muito menos enxergado. Vai lentamente, esqualidamente, calorentamente, tentando recolher as sobras da vida.
Míopes, estrábicos, indiferentes, todos os olhares parecem de cegos sociais, necessitando de lentes com um grau maior de consciência.     

domingo, 27 de junho de 2010

Beleza roubada


Às vezes, pego de surpresa, perdido em lembranças da últimas copas do mundo de futebol, a arte sempre teima em se fazer presente.

Imagino a criatividade, o drible e a molecagem vencendo a força, a rigidez, o esquema tático impecável de fortes e temidos adversários.



E, em grandes e equilibradíssimas disputas, o time do Brasil alcançando êxitos memoráveis.

Copas vêm, copas vão, e a arte, cada vez mais ausente, parece que foi jogar noutro canto.

Lá, quem sabe, ela esteja brincado com a beleza, que há muito fugiu  das passarelas junto com a sensualidade

Pelos quatro cantos do mundo, o futebol arte e a beleza feminina cederam lugar para o jogo de resultados, uma espécie de antijogo.



Veja bem, o importante é ganhar, não importa o sabor, muito menos a cor.

Veja bem, o importante é ser top, não importa a saúde, o bem estar.

E o que tem haver mulher com futebol. Nada. Tudo. Isso aí, vai depender de mim, de você.

Primeiro, uma mulher para ser top precisa ser super magra.  Por quê? Alguns “profissionais” do mundo da moda assim decretaram. E o que vemos é tentativa de imposição de um padrão de beleza que não tem correspondência com o humanamente palpável, real.

Ah! E o futebol. O futebol tem uma legião de fãs e de praticantes por todo lado. Poucos são indiferentes a ele, vez que mexe também com o emocional.

Milhões de torcedores, jogadores, peladeiros, se envolvem e se encantam com as façanhas de jogadas inacreditáveis.

Dia desses, agora em causa própria, sofri e me encantei com meu Fluminense que, contrariando toda a lógica dos matemáticos, saiu da zona de rebaixamento, feito um jipe com tração nas quatro rodas. Coração na garganta, jogadores machucados, salário atrasado, reservas duvidosos. E, no final, show de bola. Técnico, sangue bom; jogadores, guerreiros; torcida, João de Deus; e por aí vai...arte...beleza...vida.

Descupe-me pela emoção!

E, como o momento agora é de Copa do Mundo de Futebol, que, segundo suas últimas edições burocráticas, não tem permitido muito espaço para manifestações artísticas.

Todo um entusiasmo para assistir a seleção brasileira tem sido abafado por um misto de vitória com gosto amargo de falta de alguma coisa, chamada tempero, brilho...arte...vida.

Assim como os gramados nos dias de hoje, as passarelas parecem estar no lugar errado. Já expulsaram a arte e a beleza, e falta pouco para expulsar a platéia.

Nesta Copa, fico pensando, talvez nem tudo esteja perdido, a jabulani, que compromete tanto quem chuta, quanto quem defende, pode teimar e minar as mentes burocratas que gostam só dos resultados.

E tem mais, o povo sulafricano, que investiu tanto, não merecia tão pouco do que tem sido ofertado.

Mesmo assim, estou certo de que no futuro, quando buscar lembranças da Copa de 2010, na África do Sul, arte e beleza estarão presentes, juntamente com a alegria e a simplicidade, só que do lado de fora dos estádios.